(699 km acumulados)
Um dia de muitas furadas... mas também de belos visuais. |
Desde que comecei a planejar a rota para essa cicloviagem, o ponto de maior dúvida era o Lago di Garda. Eu tinha uma série de informações, coletadas de pessoas e sites diferentes, e tinha de formar um roteiro com base nelas. Muitos diziam que o lado direito do lago é o que tinha as atrações mais bonitas. O lado esquerdo, contudo, parecia o mais fácil de percorrer.
Ontem, depois de muita pesquisa e debate, resolvemos seguir um arquivo de GPS que encontramos no Bike Map. Pela altimetria mostrada, estávamos esperando um dia difícil... A gente não imaginava, porém, que esse seria o dia mais duro da cicloviagem até agora, tanto em termos de altimetria como de terreno.
Tudo começou no plano, em Riva, que fica ainda mais bonita pela manhã...
Saindo de Riva pela manhã. |
Seguimos a rota que todos os turistas fazem até o Sentiero Ponale, um sistema de trilhas e túneis escavados na rocha no final do século XIX, de onde é possível ter uma vista espetacular de Riva e do lago. Para chegar ao Ponale, é preciso subir um bom bocado, mas nada fora do comum.
Visuais maravilhosos a partir do Sentiero Ponale. |
A trilha foi escavada na pedra no final do século XIX e utilizada para fins militares na Primeira Guerra Mundial. |
Do Ponale para a frente, porém, algo deu errado... Seguimos um caminho que subia - e como subia! - até uma localidade chamada Pregasina, onde há algumas lanchonetes para ciclistas. Até chegar lá foram no mínimo uns 5 km subindo direto. Já eram umas dez e meia da manhã e paramos para tomar uma cerveja e descansar um pouco. A gente achava que em breve a subida terminaria e viria uma descida que nos levaria à beira do lago novamente.
Muita subida! |
Logo depois de sairmos do barzinho, chegamos a uma praça onde não havia nenhuma sinalização. Fui perguntar, então, numa outra lanchonete próxima como ir a Limone sul Garda a partir dali. Embora nosso destino final fosse Sirmione, perguntei por Limone porque é um destino mais conhecido e eu sabia que tínhamos de passar por lá.
A moça da lanchonete falava espanhol e me deu um alerta claro: seria muito difícil ir por ali de bicicleta. O caminho é íngreme, longo, pedregoso e deserto. Segundo ela, a gente deveria descer de volta até Riva tudo que tinha subido e simplesmente pegar um barco até Limone ou outro lugar qualquer.
Mas , como somos brasileiros e teimosos, ignoramos esse alerta tão prudente e seguimos mesmo assim. E o caminho era exatamente como ela descreveu: alguns conseguiam pedalar, mas outros (eu, por exemplo) só empurravam ladeira acima. Para piorar, o terreno era o mais pirambeirento que pegamos até agora, apropriado para uma mountain bike, não para estradeiras como as nossas.
Rapadura é doce, mas não é mole, não. |
Depois de empurrar durante mais de uma hora, chegamos a uma cabana onde duas mulheres faziam um piquenique com crianças. Naquele ponto havia uma bifurcação e não dava para saber como seguir. Perguntamos a elas, mas não sabiam. Uma delas gentilmente telefonou ao marido, e este nos explicou que de lá era possível, sim, prosseguir, mas era praticamente uma escalada. Havia um caminho "menos difícil" à esquerda, mas quando passamos diante da entrada vimos que era uma trilha de MTB, impossível de ser feita com nossas bicicletas.
A cabana dos caminhos confusos. |
Resolvemos, então, finalmente - e com mais de uma hora de atraso - seguir o conselho da moça da lanchonete e voltar para Riva!
Mas calma que a roubada ainda não acabou... As mulheres tinham nos dito que era possível voltar para Pregasina seguindo à direita da cabana, em vez de voltarmos por onde tínhamos subido. Seguimos nesse caminho que elas indicaram e começou a descer - o que parecia ótimo - até que o caminho simplesmente acabou. Fim da estrada. No way out. Observamos ao redor e descobrimos uma placa indicando que a caminho ia, sim, para Pregasina... Mas era uma trilha de trekking, impossível para bicicletas! As mulheres da cabana provavelmente nunca tinham ido lá, simplesmente ouviam dizer que ia para Pregasina.
Resultado: tivemos que subir de volta até a cabana. De lá finalmente descemos pelo mesmo caminho para Pregasina. Se subir foi difícil, descer foi tão duro quanto, penando para segurar as bikes carregadas no pedregulho.
Descida sofrida. |
Terminamos essa aventura no píer de Riva, com as mãos doloridas e uma lição aprendida: mesmo nas cicloviagens mais tranquilas, nunca estamos livres das roubadas! Huahuahuahua
Olhando o arquivo do Strava, vimos que subimos insanos 1.400 metros em cerca de 12 km, o que dá um gradiente absurdo, superior a 10%!
Depois de almoçar, pegamos finalmente o barco para Sirmione. Foram longas quatro horas de viagem, mas pelo menos a gente não precisava mais empurrar a bicicleta...
Quatro horas de barco até Sirmione. |
Castelo visto do barco. |
Enquanto olhávamos no barco os mapas e o Strava do que tínhamos feito, descobrimos o que deu errado: muito provavelmente, o gps que seguimos foi gravado por um ciclista que foi pela estrada de Riva a Limone, a mesma usada pelos carros, e que atravessa as montanhas por túneis. Acontece que, recentemente, essa estrada foi totalmente interditada para bicicletas, de modo que, quando chegamos no primeiro túnel, as placas para ciclistas nos mandaram para o caminho das subidas malucas.
Bom, chegamos a Sirmione à noitinha e deu para perceber que a cidade é maravilhosa. Resolvemos até ficar um dia a mais aqui para descansar e curtir a "praia"!
Chegada a Sirmione, mais de sete da noite. |
Passeio à noite por Sirmione... |
Alguém ostentando muito com um Rolls Royce folheado a ouro... |
Também havia hotéis de nomes estranhos. (Não, não ficamos hospedados aqui.) |
Estrada difícil. Subida difícil. Porém a vista deve ter sido incrível. Deve ter valido a pena...
ResponderExcluirBeijos e orgulho de vocês.
Obrigada! Valeu a pena mesmo...
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