Via Claudia Augusta – 750 km de pedal!

Uma das incríveis vistas que o cicloturista pode apreciar na Via Claudia Augusta.

Somos um casal de cicloturistas brasileiros e este blog foi planejado para registrar nossas cicloviagens, bem como dar dicas para aqueles que quiserem repetir nossas aventuras.
A primeira cicloviagem que vamos relatar aqui é a da Via Claudia Augusta, uma estrada construída há mais de 2.000 anos pelos romanos para ligar a região da Baviera, na Alemanha, ao Mar Adriático. Hoje a estrada foi transformada em um roteiro de cicloturismo, bem sinalizado em quase toda a sua extensão e formado principalmente por ciclovias ou estradas rurais (incluindo uns 40% de trechos off-road).
A Via Claudia Augusta começa na cidade alemã de Donauwörth, próxima a Munique, e pode terminar em Mestre, perto de Veneza, ou em Ostiglia, perto de Verona. No total, o trajeto tem aproximadamente 750 km e passa por quatro países: Alemanha, Áustria, Suíça (só um pedacinho!) e Itália.
Veja os dados básicos de nossa viagem:

Quando fomos? – entre o fim de agosto e o início de setembro de 2014.
Quantos quilômetros percorremos? – 740 km, de Donauwörth a Mestre (Veneza).
Em quantos dias? – Em 12 dias de pedal, com um 1 dia no meio para descanso (total de 13 dias).
Qual foi a média de quilometragem? – Média de 61,5 km por dia.
Como planejamos a viagem? – Saímos do Brasil com uma lista das cidades onde pretendíamos dormir e dos hotéis e pousadas onde pretendíamos nos hospedar. Essa lista foi preparada com base nas preciosas dicas do blog Pedalando na Via Claudia Augusta e também de amigos que haviam feito anteriormente o trajeto. Durante a viagem, acabamos fazendo algumas alterações no roteiro inicial, como você poderá comprovar lendo as postagens.

Se você tem interesse em percorrer a Via Claudia Augusta de bicicleta, de maneira autônoma (sem agência de turismo), e ficou com alguma dúvida ou gostaria de receber mais dicas, não hesite em nos contatar pelos comentários do blog ou escrevendo diretamente para nossos e-mails.

Um vídeo que produzimos com um resumo da aventura pode ser visto aqui:




De Donauwörth, na Alemanha, a Mestre (Veneza), na Itália: os 750 km da Via Claudia Augusta.

10 de setembro – Treviso a Mestre (Veneza) - FIM DA VIAGEM!

12° dia de pedal (Treviso a Mestre): 50 km

Como dito no post anterior, a Via Claudia propriamente dita termina na localidade de Altino, antes de Treviso. É tradicional, porém, que o cicloturista continue até Veneza. Afinal de contas, quem não quer terminar uma cicloviagem dessas em grande estilo, passeando pelos românticos canais venezianos?
Mas quando falamos em pedalar até Veneza, é importante frisar que não estamos falando da Veneza insular, e sim da parte da cidade que fica em terra firme, ou seja, o distrito de Mestre. Se você estiver percorrendo a Via Claudia de bicicleta, nem pense em se hospedar em Veneza: você vai enlouquecer ao tentar passar com a bike e os alforjes pelas ruazinhas estreitas e superlotadas. O mais indicado é, sem a menor dúvida, hospedar-se em Mestre.
Foi por isso que logo cedo, ainda em Treviso, ligamos pelo Skype para um hotelzinho em Mestre e já deixamos nosso quarto reservado. De Treviso em diante, obviamente não há mais sinalização da Via Claudia, pois ela já terminou. No entanto, é possível guiar-se por estes adesivos com uma espécie de tridente.

Os adesivos com tridente ajudam a achar o caminho até Mestre (Veneza).

Esta última etapa da viagem é relativamente tranquila: são cerca de 50 km em um percurso quase totalmente plano, e boa parte dele é feito em ciclovias. Apenas nas proximidades de Mestre é necessário pegar autoestradas, mas vimos vários outros ciclistas por lá e acabamos perdendo o medo de trafegar no minúsculo acostamento.
Chegamos a Mestre por volta da hora do almoço e ainda deu tempo de passar num simpático mecânico para trocar os raios da bicicleta do Eduardo – sim, ele estava com mais três raios quebrados!
Depois de deixarmos as bikes no hotel e tomarmos banho, lá fomos nós conhecer Veneza. Além de ser uma atração turística realmente imperdível, visitar a cidade tem um gostinho de comemoração – afinal, é o último ponto de uma jornada mágica, transformadora, que se iniciou 13 dias atrás, em uma cidadezinha da Alemanha. Percorrer a Via Claudia Augusta é, com certeza, uma experiência única e maravilhosa que toda pessoa que ama a bicicleta deveria pensar seriamente em realizar!

Depois de percorrer os 740 km da Via Claudia Augusta, fomos curtir Veneza!

Uma das famosas gôndolas.

Em um dos canais de Veneza.

Campanário da Basílica de San Marco, um dos pontos mais visitados pelos turistas.

O leão alado, símbolo do poderio de Veneza, está no alto de uma das portas da cidade.

Passeando de lancha por Veneza.

Veneza: o ponto final de uma viagem mágica!



9 de setembro – Feltre a Treviso

11° dia de pedal (Feltre a Treviso): 85 km

E aí você está no penúltimo dia da Via Claudia e pensa: o pior já passou, os Alpes já ficaram bem para trás, agora é só moleza. Se houver algum morrinho, vai ser algo pontual, como a encosta do Monte Grappa ontem.
Se você pensar assim – como nós pensamos –, guarde bem este nome: Praderadego. É lá que a criança chora e a mãe não escuta.
Basta dizer que hoje foi, de longe, o dia mais difícil de toda a jornada. Chegamos a Treviso às oito horas da noite, dez horas depois de ter saído de Feltre, com quase 90 km rodados, exaustos, sem uma gota de água nos Camelbacks e – principalmente – sem disposição para rodar nem mais um quilômetro. Mas vamos começar o relato desse duríssimo dia desde o início.
Saindo de Feltre, só para variar perdemos a Via Claudia e fomos parar em um morro com fortes subidas (mas, pelo que observamos depois na altimetria oficial, no caminho normal também teríamos de cruzar uma montanha). Na cidadezinha de Cesiomaggiore, reencontramos a Via e seguimos sua sinalização, que estava excepcionalmente boa nesse trecho. Passamos por várias aldeiazinhas montanhesas, com construções não tão seculares quanto as do Alto Adige, mas também peculiares e charmosas.

Cidadezinhas do Vêneto.
Seguimos nesse passo até uma cidade chamada Villa de Villa. Logo que saímos de lá, percebemos que algo de muito estranho estava para acontecer: demos de cara com uma descida alucinante, incrivelmente íngreme e sinuosa, com curvas tão fechadas que pareciam de montanha-russa. Essa descida nos levou direto ao fundo mais fundo do vale – de onde, é claro, tivemos de subir tudo de novo.
Não é exagero dizer que foi uma das subidas mais duras que já enfrentei na vida. Em cicloviagens, certamente foi a mais dura. No começo até tentamos pedalar, mas logo a inclinação se tornou inviável. Daí para a frente, foram nada menos que duas horas empurrando direto. Sim, duas horas!

Empurrando...

... empurrando...

... e empurrando um pouco mais.

Passo di Praderadego: é aí que a criança chora e a mãe não escuta! São nada menos que
692 metros de ascensão em apenas 8,3 km. Duvida? Clique aqui.

Como se vê na placa, Praderago nem está tão alto assim: são apenas 910 metros acima do nível do mar. O problema é que antes de iniciar a subida se desce muito, até o fundo do vale, então a ascensão é quase total. Depois de toda subida monstruosa como essa vem, é claro, uma monstruosa descida. Embora ela fosse um alívio, não pudemos relaxar ainda, porque a inclinação era forte demais e as curvas muito fechadas. Toda hora precisávamos dar uma paradinha para descansar a mão e aliviar o freio – que esquentava pra burro e começava a fazer mais barulho que um freio de ônibus.
Enquanto descíamos, admirávamos a imponente montanha que havíamos escalado. Agora era possível vê-la por completo – e também aqueles pontinhos lááá embaixo, de onde tínhamos saído horas antes.

Horas antes nós estávamos lááá embaixo.

Na descida dá para apreciar melhor a grandiosidade da montanha.

Se você observar no mapa o roteiro "normal" de Feltre até Treviso, para ser feito por um carro, são apenas 50 km. A Via Claudia, porém, segue um verdadeiro labirinto pelos vilarejos, dando voltas e mais voltas para escapar das autoestradas. Assim, se você seguir à risca o roteiro oficial, em vez dos 50 km, rodará aproximadamente 100 km.
Até aí tudo bem, porque ninguém quer mesmo pedalar nas autoestradas europeias (que em geral nem acostamento têm) e a ideia de uma cicloviagem pela Via Claudia é justamente percorrer aldeias e cidades pequenas por tranquilas ciclovias. O problema é que depois de Follina (o ponto final da descida) a sinalização da Via Claudia torna-se péssima. Em alguns pontos, ela mais atrapalha do que ajuda, porque você começa a seguir as placas e de repente elas desaparecem, te deixando no meio do nada. Programado para chegar a Treviso, nosso GPS indicava o caminho mais curto e direto, pela autoestrada, então os momentos de divergência em relação à rota da Via Claudia – e de dúvida sobre qual caminho escolher – eram constantes.
Quando já eram mais de 17h e já tínhamos rodado mais de 60 km, vimos uma placa da Via Claudia indicando que Treviso ainda estava a 36 km. Pelo GPS, pegando diretamente a autoestrada rodaríamos 22 km até Treviso. Mortos de cansaço, resolvemos mandar a Via Cláudia às favas e seguir o GPS, mesmo que fosse pela autoestrada!
Foi um pouco tenso pedalar na pista, mas nada diferente do que já enfrentamos do Brasil. Quando estávamos quase chegando em Treviso, voltamos a avistar a sinalização da Via Claudia. Decidimos segui-la, mas mais uma vez nos ferramos, pois as placas sumiram de repente e, para não nos perdermos ainda mais, tivemos de voltar ao caminho do GPS.
Mais tarde, revendo o mapa do site oficial (www.viaclaudia.org), descobrimos por que as placas sumiram de repente: na verdade, a Via Claudia termina antes de Treviso, em uma localidade chamada Altino. Daí para a frente, quem quiser continua até Mestre (Veneza), como nós fizemos, mas já não está mais na Via Claudia.
Bem, depois da gigantesca subida do Praderadego e de todas as confusões com os caminhos, chegamos a Treviso de noite. Ficamos em um hotelzinho bem fuleiro na entrada da cidade – até porque não tínhamos ânimo para continuar rodando até encontrar outro.

Chegamos a Treviso oito horas da noite. Conselho de amigo: divida esta etapa da
Via Claudia em dois dias, em vez de fazer em um dia só como nós fizemos.

Conselho de amigo: se quiser seguir a Via Claudia de Feltre a Treviso, divida a jornada em dois dias! Fazer em um só é para deixar qualquer ciclista doido...

Hospedagem em Treviso: Hotel Tre Santi (50 euros p/ o casal – com café da manhã) – prós: fica antes do centro da cidade, então, se você chegar morto como nós chegamos, não precisa rodar até lá; contra: todos... hehe... Acho que foi o pior hotel onde ficamos durante toda a viagem. O quarto era sujo e fedorento, as bikes ficavam ao relento e o café da manhã era indescritivelmente ruim.

8 de setembro – Roncegno Terme a Feltre

10° dia de pedal (Roncegno Terme a Feltre): 56 km

Hoje foi um dos dias mais perfeitos de toda a viagem. Achamos facilmente a Via Claudia na saída de Roncegno Terme e seguimos por uma linda ciclovia toda arborizada, sempre ladeada pelo rio Brenta. Na primeira metade do percurso o caminho é praticamente todo plano. Após uns 30 e tantos quilômetros, há uma subida longa e forte por uma estrada que sobe uma das encostas do Monte Grappa. No alto dessa estrada, encontramos as ruínas de uma fortaleza construída no final do século XIX e destruída pelas tropas austríacas no fim da Primeira Guerra Mundial.


Os primeiros 30 quilômetros deste dia foram bem tranquilos, por ciclovias planas e agradáveis. 
À distância vemos o Castel Tevana, construído na Idade Média sobre as ruínas de uma fortificação romana que outrora protegia a Via Claudia.

Em certo ponto da jornada enfrentamos uma subida forte, em uma das encostas do Maciço do Grappa.

No alto há uma fortaleza construída no final do século XIX e destruída
pelas tropas austríacas na Primeira Guerra Mundial.


De acordo com a placa, não se sabe exatamente por onde a estrada original romana passava nessa região.

Além de o caminho ser bonito e bem sinalizado, o tempo também estava ótimo, com muito sol, mas não quente demais. Correu tudo tão bem que chegamos ao hotel bem cedo, por volta das 15 horas, e ainda deu tempo de conhecer o interessante centro histórico de Feltre.

Cartaz na recepção do hotel: dá para notar que o pessoal aqui "adora" o Berlusconi, né?!

O charmoso centro de Feltre.

Bicicletas aguardam seus donos placidamente.

Como era segunda, todos os restaurantes da cidade estavam fechados.
Para achar um aberto tivemos de caminhar quase uma hora, mas pelo menos aproveitamos bem o jantar...

Hospedagem em Feltre: Hotel Park Feltre (70 euros p/ o casal – com café da manhã) – prós: ótimo atendimento, feito por um casal jovem que arranha português; as bikes ficam na recepção; contras: café da manhã bem modesto; sinal de internet apenas razoável.

7 de setembro – de Trento a Roncegno Terme

9° dia de pedal (Trento a Roncegno Terme): 49,5 km

Ainda bem que estávamos com as perninhas bem descansadas depois de três dias só de descidas e retas, pois logo na saída de Trento gigantescas subidas nos aguardavam. 

Subidas enormes logo na saída de Trento. Esta passa ao lado do Castello del Buonconsiglio,
residência dos príncipes trentinos do século XIII ao século XVIII. 

Nas encostas inclinadas, além das macieiras agora aparecem também vinhedos. 

Mas as subidas nem foram nosso maior desafio neste dia: o pior mesmo foi conseguir achar o caminho. A "pista ciclabile" do vale do Alto Adige e sua excelente sinalização infelizmente terminam em Trento. Daí para a frente, ao que parece, a organização fica a cargo da Associazone Via Claudia Augusta Italia – e é aí que os problemas começam.
Não é coincidência, aliás, que em Trento também acabe o fluxo de cicloturistas. De lá até Veneza, encontraríamos pouquíssimos corajosos de alforjes como nós.
Na saída da cidade, as placas tornam-se mais escassas e, para piorar, como não há ciclovias, a sinalização manda para a autoestrada e você fica desconfiado se o caminho é aquele mesmo, porque até agora o percurso tem sido feito quase exclusivamente por ciclovias ou estradinhas rurais. Em um desses momentos nos quais a sinalização da Via Claudia mandava para a autoestrada, um senhor cheio de boas intenções nos parou e disse que não deveríamos ir por ali, pois era muito perigoso para ciclistas; em vez disso, deveríamos pegar a "pista ciclabile".
O problema é que esse senhor – assim como outras pessoas a quem pedimos informações ao longo do caminho – não conhece a Via Claudia. Eles veem a pessoa de bicicleta e logo acham que ela quer percorrer a ciclovia do Valsugana, que contorna o Lago di Caldonazzo. Esse é realmente um caminho muito agradável para ciclistas... mas passa a uns 10 km da Via Claudia! E foi mais ou menos essa a distância que tivemos de voltar quando percebemos que estávamos em outra ciclorrota. Antes de encarar essa volta, porém, tiramos um cochilo à beira do lago.

O Lago de Caldonazzo, por onde passa a pista ciclabile de Valsugana.
Cuidado para não confundi-la com a Via Claudia, como nós fizemos!

No caminho de volta para a Via Claudia, encontramos lindas paisagens.

Contraste de cores.

Em todo o norte da Itália, havia essas fontes de água potável
onde podíamos reabastecer as garrafinhas. Maravilha!

Depois de reencontrar a Via Claudia e vencer mais algumas subidas, chegamos à bela Roncegno Terme debaixo de uma refrescante chuva de verão. Acho que a cicloviagem é a modalidade de turismo em que você mais tem contato com os elementos da natureza – e mais aprende a apreciá-los! Uma chuva como esta, por exemplo, é muito bem-vinda após um dia de pedal puxado sob o sol.

Chegando à pequena Roncegno Terme.

Roseira na entrada do Agritur Montibeller.


Seguindo mais uma dica preciosa do nosso amigo carioca, ficamos em uma pousada rural chamada Agritur Montibeller. Comum nessa região, o "agritur" é uma fazenda ou sítio que recebe turistas. O ambiente é simples, claro, mas muito aconchegante.
Jantamos muito bem na própria pousada e depois ficamos horas papeando com o dono do lugar, que tem parentes no Espírito Santo.

Fachada do Agritur Montibeller, uma propriedade rural que recebe turistas.

Ambiente simples e muito aconchegante.

Como nos tempos da Bíblia: pão, vinho, água e azeite!



Hospedagem em Roncegno Terme: Agritur Montibeller (56 euros p/ o casal – com café da manhã) - prós: ambiente simples, mas limpo e acolhedor; quarto grande, equipado com todos os utensílios (inclusive pia e minifogão); garagem coberta para as bikes; jantar excelente, muito barato, farto e saboroso; contra: nenhum.

6 de setembro - Bolzano a Trento

8° dia de pedal (Bolzano a Trento): 65 km

Uma característica do trecho italiano da Via Claudia é que agora há várias lanchonetes voltadas para ciclistas ao longo do caminho, coisa que não ocorria na Alemanha e na Áustria. Esses estabelecimentos recebem não apenas cicloturistas (que nessa região já são mais raros), mas  principalmente speedeiros, que aproveitam os quilômetros e quilômetros de ciclovias asfaltadas. No primeiro dia em solo italiano (de Pfunds a Coldrano) ainda houve alguns trechos off-road, mas tanto ontem como hoje o percurso foi 100% no asfalto.
Aproveitamos um desses pontos de parada para fazer um lanche admirando as Dolomitas. Essa imponente cadeia de montanhas foi, aliás, o grande destaque da paisagem no dia de hoje.

Pausa para o lanche admirando as Dolomitas.

Esta maravilhosa cadeia de montanhas faz parte dos Alpes.
Algumas das mais magníficas paisagens da Via Claudia Augusta
podem ser vistas neste trecho entre Bolzano e Trento.

Simplesmente sem comentários, né?

Observem também que demos adeus aos agasalhos. Agora jaquetas, segundas peles e balaclavas vão ficar guardadinhas no fundo do alforje até voltarmos ao Brasil!
Para a hospedagem, seguimos a maravilhosa sugestão de um amigo carioca que já fez a Via Claudia e ficamos no Hotel Vela, a 2 km do centro de Trento. Foi o melhor custo-benefício até agora: por uma diária relativamente econômica, tivemos um ótimo quarto, com café da manhã, garagem coberta, restaurante no próprio hotel para o jantar – e, acima de tudo, um atendimento simplesmente fenomenal. Além de toda a equipe ser atenciosa e gentil, o gerente nos ofereceu um laptop reservado para uso dos hóspedes e assim, finalmente... tchan tchan tchan... conseguimos baixar os vídeos da GoPro! Ufa! Agora, sim, a memória está livre para novos vídeos!

Hotel em Trento: Hotel Vela (72 euros p/ o casal – com café da manhã) – prós: atendimento excelente, bom quarto, bom restaurante, garagem coberta para as bikes, bom sinal de internet em todo o hotel; contra: todas as áreas comuns do hotel são muito quentes; no quarto ainda dá para usar o ar-condicionado, mas no resto do hotel não tem jeito: prepare a regata porque você vai passar calor.

5 de setembro - Coldrano a Bolzano

7° dia de pedal (Coldrano a Bolzano): 64 km

Uma coisa que estou querendo comentar há alguns dias é a impressionante quantidade de cicloturistas que temos visto na Via Claudia desde o início da viagem. Muitos deles são senhores e senhoras com mais de 60 anos. Aliás, a vitalidade dos idosos europeus é outra coisa admirável. Volta e meia somos ultrapassados por vovôs e vovós todos lampeiros em suas speeds ou nas tradicionais ciclocross de aro 28. Outros preferem caminhar e passam de lá para cá com seus specks.
Também encontramos famílias inteiras pedalando na Via Claudia Augusta, além de mulheres puxando reboques com bebês ou cachorros. O clima entre os cicloturistas é de camaradagem e somos sempre cumprimentados por quem vem na direção contrária.
Desde que cruzamos a fronteira da Itália, as placas da Via Claudia praticamente desapareceram, mas foram substituídas pela excelente sinalização da "pista ciclabile della Valle del'Adige". Observem que o alemão ainda aparece nas placas. Aliás, apesar de estarmos na Itália, na região do Alto Adige se fala um dialeto germânico, o dialeto sul-tirolês.

Nesta região não há placas da Via Claudia, mas há a
perfeita sinalização da "Pista Ciclabile della Valle dell'Adige".

O alemão ainda está presente nas placas. Na verdade, por aqui não
se fala italiano, e sim o dialeto sul-tirolês.

No percurso de hoje não houve descidas tão pronunciadas, exceto por um morro que descemos de uma vez só. O restante dos 60 e poucos quilômetros foram percorridos em um terreno praticamente plano, com uma leve inclinação descendente.

Coldrano foi a última cidade friazinha por que passamos. Na nossa descida rumo ao sul, o sol
estaria sempre presente... e a temperatura aumentaria cada vez mais!

Vista da última descida íngreme que pegamos.

Parada para o lanche à beira do rio Adige.

Saímos de Colandro de jaqueta, pois estava frozinho, mas chegamos lá embaixo, em Bolzano, morrendo de calor. Quase na entrada da cidade, outro raio da bike do Eduardo quebrou. Agora não tinha jeito: tínhamos que consertar aquela roda.
Chegamos à cidade umas 16h e fomos direto ao centro de informações turísticas. Fiz três pedidos à atendente: que nos indicasse uma oficina de bicicletas, um internet café (até agora não conseguimos as benditas entradas USB para baixar os vídeos, e a memória da GoPro está praticamente lotada!), além de um hotel próximo à oficina. Supergentil, ela tentou em vários hotéis, mas ou estavam lotados ou ficavam longe. Quanto ao preço dos hotéis, fiquei impressionada, pois eram bem superiores aos que temos pagado – basta dizer que o albergue da cidade cobrava nada menos que 45 euros por pessoa!
Bem, depois de algumas tentativas, ela nos conseguiu lugar em um hotelzinho tão caro quanto os outros, porém bem próximo, então pudemos deixar as coisas lá e ir até a bicicletaria. Era, na verdade, uma gigantesca loja de esportes, a Sportler, onde fomos bem atendidos e os raios foram trocados em menos de uma hora.
Achamos o internet café, mas mais uma vez não foi possível baixar os vídeos: de acordo com o simpático atendente, que conversou conosco um tempão, a legislação italiana antiterrorismo e antipedofilia impede o acesso a periféricos como HD externos ou filmadoras sem identificação do usuário, por isso os computadores dos cybercafés travam automaticamente o acesso a esses dispositivos. E lá fomos nós de volta para o hotel com a memória da GoPro ainda lotada!
Uma coisa que chama a atenção logo de cara em Bolzano, a primeira cidade grande que atravessamos na Itália, é que não há nem sombra daquela organização toda de ciclovias que vimos na Alemanha. Pedestres, ciclistas, automóveis – todos andam ao mesmo tempo por todos os lugares! Mas as bicicletas continuam onipresentes, como vemos por este grande estacionamento de magrelas na segunda foto abaixo. Também nos chamou a atenção uma prática máquina de venda automática de câmaras (terceira foto), instalada ao lado da loja Sportler para o ciclista resolver seu problema de pneu furado a qualquer hora do dia ou da noite.

Bolzano: uma cidade fervilhando de turistas.

Grande estacionamento de bicicletas.

Furou o pneu à noite? Sem problemas! Nesta máquina de venda automática,
você coloca algumas moedas e compra uma câmara na hora que quiser!

Hotel em Bolzano: Hotel Adria (88 euros p/ o casal – sem café da manhã) - prós: boa localização, ao lado do centro histórico e em cima de uma padaria; contras: caríssimo pelo pouco que oferece; não tem nem sequer internet gratuita – é preciso pagar 10 euros a mais por 4 horas de uso.