10 de setembro – Treviso a Mestre (Veneza) - FIM DA VIAGEM!

12° dia de pedal (Treviso a Mestre): 50 km

Como dito no post anterior, a Via Claudia propriamente dita termina na localidade de Altino, antes de Treviso. É tradicional, porém, que o cicloturista continue até Veneza. Afinal de contas, quem não quer terminar uma cicloviagem dessas em grande estilo, passeando pelos românticos canais venezianos?
Mas quando falamos em pedalar até Veneza, é importante frisar que não estamos falando da Veneza insular, e sim da parte da cidade que fica em terra firme, ou seja, o distrito de Mestre. Se você estiver percorrendo a Via Claudia de bicicleta, nem pense em se hospedar em Veneza: você vai enlouquecer ao tentar passar com a bike e os alforjes pelas ruazinhas estreitas e superlotadas. O mais indicado é, sem a menor dúvida, hospedar-se em Mestre.
Foi por isso que logo cedo, ainda em Treviso, ligamos pelo Skype para um hotelzinho em Mestre e já deixamos nosso quarto reservado. De Treviso em diante, obviamente não há mais sinalização da Via Claudia, pois ela já terminou. No entanto, é possível guiar-se por estes adesivos com uma espécie de tridente.

Os adesivos com tridente ajudam a achar o caminho até Mestre (Veneza).

Esta última etapa da viagem é relativamente tranquila: são cerca de 50 km em um percurso quase totalmente plano, e boa parte dele é feito em ciclovias. Apenas nas proximidades de Mestre é necessário pegar autoestradas, mas vimos vários outros ciclistas por lá e acabamos perdendo o medo de trafegar no minúsculo acostamento.
Chegamos a Mestre por volta da hora do almoço e ainda deu tempo de passar num simpático mecânico para trocar os raios da bicicleta do Eduardo – sim, ele estava com mais três raios quebrados!
Depois de deixarmos as bikes no hotel e tomarmos banho, lá fomos nós conhecer Veneza. Além de ser uma atração turística realmente imperdível, visitar a cidade tem um gostinho de comemoração – afinal, é o último ponto de uma jornada mágica, transformadora, que se iniciou 13 dias atrás, em uma cidadezinha da Alemanha. Percorrer a Via Claudia Augusta é, com certeza, uma experiência única e maravilhosa que toda pessoa que ama a bicicleta deveria pensar seriamente em realizar!

Depois de percorrer os 740 km da Via Claudia Augusta, fomos curtir Veneza!

Uma das famosas gôndolas.

Em um dos canais de Veneza.

Campanário da Basílica de San Marco, um dos pontos mais visitados pelos turistas.

O leão alado, símbolo do poderio de Veneza, está no alto de uma das portas da cidade.

Passeando de lancha por Veneza.

Veneza: o ponto final de uma viagem mágica!



9 de setembro – Feltre a Treviso

11° dia de pedal (Feltre a Treviso): 85 km

E aí você está no penúltimo dia da Via Claudia e pensa: o pior já passou, os Alpes já ficaram bem para trás, agora é só moleza. Se houver algum morrinho, vai ser algo pontual, como a encosta do Monte Grappa ontem.
Se você pensar assim – como nós pensamos –, guarde bem este nome: Praderadego. É lá que a criança chora e a mãe não escuta.
Basta dizer que hoje foi, de longe, o dia mais difícil de toda a jornada. Chegamos a Treviso às oito horas da noite, dez horas depois de ter saído de Feltre, com quase 90 km rodados, exaustos, sem uma gota de água nos Camelbacks e – principalmente – sem disposição para rodar nem mais um quilômetro. Mas vamos começar o relato desse duríssimo dia desde o início.
Saindo de Feltre, só para variar perdemos a Via Claudia e fomos parar em um morro com fortes subidas (mas, pelo que observamos depois na altimetria oficial, no caminho normal também teríamos de cruzar uma montanha). Na cidadezinha de Cesiomaggiore, reencontramos a Via e seguimos sua sinalização, que estava excepcionalmente boa nesse trecho. Passamos por várias aldeiazinhas montanhesas, com construções não tão seculares quanto as do Alto Adige, mas também peculiares e charmosas.

Cidadezinhas do Vêneto.
Seguimos nesse passo até uma cidade chamada Villa de Villa. Logo que saímos de lá, percebemos que algo de muito estranho estava para acontecer: demos de cara com uma descida alucinante, incrivelmente íngreme e sinuosa, com curvas tão fechadas que pareciam de montanha-russa. Essa descida nos levou direto ao fundo mais fundo do vale – de onde, é claro, tivemos de subir tudo de novo.
Não é exagero dizer que foi uma das subidas mais duras que já enfrentei na vida. Em cicloviagens, certamente foi a mais dura. No começo até tentamos pedalar, mas logo a inclinação se tornou inviável. Daí para a frente, foram nada menos que duas horas empurrando direto. Sim, duas horas!

Empurrando...

... empurrando...

... e empurrando um pouco mais.

Passo di Praderadego: é aí que a criança chora e a mãe não escuta! São nada menos que
692 metros de ascensão em apenas 8,3 km. Duvida? Clique aqui.

Como se vê na placa, Praderago nem está tão alto assim: são apenas 910 metros acima do nível do mar. O problema é que antes de iniciar a subida se desce muito, até o fundo do vale, então a ascensão é quase total. Depois de toda subida monstruosa como essa vem, é claro, uma monstruosa descida. Embora ela fosse um alívio, não pudemos relaxar ainda, porque a inclinação era forte demais e as curvas muito fechadas. Toda hora precisávamos dar uma paradinha para descansar a mão e aliviar o freio – que esquentava pra burro e começava a fazer mais barulho que um freio de ônibus.
Enquanto descíamos, admirávamos a imponente montanha que havíamos escalado. Agora era possível vê-la por completo – e também aqueles pontinhos lááá embaixo, de onde tínhamos saído horas antes.

Horas antes nós estávamos lááá embaixo.

Na descida dá para apreciar melhor a grandiosidade da montanha.

Se você observar no mapa o roteiro "normal" de Feltre até Treviso, para ser feito por um carro, são apenas 50 km. A Via Claudia, porém, segue um verdadeiro labirinto pelos vilarejos, dando voltas e mais voltas para escapar das autoestradas. Assim, se você seguir à risca o roteiro oficial, em vez dos 50 km, rodará aproximadamente 100 km.
Até aí tudo bem, porque ninguém quer mesmo pedalar nas autoestradas europeias (que em geral nem acostamento têm) e a ideia de uma cicloviagem pela Via Claudia é justamente percorrer aldeias e cidades pequenas por tranquilas ciclovias. O problema é que depois de Follina (o ponto final da descida) a sinalização da Via Claudia torna-se péssima. Em alguns pontos, ela mais atrapalha do que ajuda, porque você começa a seguir as placas e de repente elas desaparecem, te deixando no meio do nada. Programado para chegar a Treviso, nosso GPS indicava o caminho mais curto e direto, pela autoestrada, então os momentos de divergência em relação à rota da Via Claudia – e de dúvida sobre qual caminho escolher – eram constantes.
Quando já eram mais de 17h e já tínhamos rodado mais de 60 km, vimos uma placa da Via Claudia indicando que Treviso ainda estava a 36 km. Pelo GPS, pegando diretamente a autoestrada rodaríamos 22 km até Treviso. Mortos de cansaço, resolvemos mandar a Via Cláudia às favas e seguir o GPS, mesmo que fosse pela autoestrada!
Foi um pouco tenso pedalar na pista, mas nada diferente do que já enfrentamos do Brasil. Quando estávamos quase chegando em Treviso, voltamos a avistar a sinalização da Via Claudia. Decidimos segui-la, mas mais uma vez nos ferramos, pois as placas sumiram de repente e, para não nos perdermos ainda mais, tivemos de voltar ao caminho do GPS.
Mais tarde, revendo o mapa do site oficial (www.viaclaudia.org), descobrimos por que as placas sumiram de repente: na verdade, a Via Claudia termina antes de Treviso, em uma localidade chamada Altino. Daí para a frente, quem quiser continua até Mestre (Veneza), como nós fizemos, mas já não está mais na Via Claudia.
Bem, depois da gigantesca subida do Praderadego e de todas as confusões com os caminhos, chegamos a Treviso de noite. Ficamos em um hotelzinho bem fuleiro na entrada da cidade – até porque não tínhamos ânimo para continuar rodando até encontrar outro.

Chegamos a Treviso oito horas da noite. Conselho de amigo: divida esta etapa da
Via Claudia em dois dias, em vez de fazer em um dia só como nós fizemos.

Conselho de amigo: se quiser seguir a Via Claudia de Feltre a Treviso, divida a jornada em dois dias! Fazer em um só é para deixar qualquer ciclista doido...

Hospedagem em Treviso: Hotel Tre Santi (50 euros p/ o casal – com café da manhã) – prós: fica antes do centro da cidade, então, se você chegar morto como nós chegamos, não precisa rodar até lá; contra: todos... hehe... Acho que foi o pior hotel onde ficamos durante toda a viagem. O quarto era sujo e fedorento, as bikes ficavam ao relento e o café da manhã era indescritivelmente ruim.

8 de setembro – Roncegno Terme a Feltre

10° dia de pedal (Roncegno Terme a Feltre): 56 km

Hoje foi um dos dias mais perfeitos de toda a viagem. Achamos facilmente a Via Claudia na saída de Roncegno Terme e seguimos por uma linda ciclovia toda arborizada, sempre ladeada pelo rio Brenta. Na primeira metade do percurso o caminho é praticamente todo plano. Após uns 30 e tantos quilômetros, há uma subida longa e forte por uma estrada que sobe uma das encostas do Monte Grappa. No alto dessa estrada, encontramos as ruínas de uma fortaleza construída no final do século XIX e destruída pelas tropas austríacas no fim da Primeira Guerra Mundial.


Os primeiros 30 quilômetros deste dia foram bem tranquilos, por ciclovias planas e agradáveis. 
À distância vemos o Castel Tevana, construído na Idade Média sobre as ruínas de uma fortificação romana que outrora protegia a Via Claudia.

Em certo ponto da jornada enfrentamos uma subida forte, em uma das encostas do Maciço do Grappa.

No alto há uma fortaleza construída no final do século XIX e destruída
pelas tropas austríacas na Primeira Guerra Mundial.


De acordo com a placa, não se sabe exatamente por onde a estrada original romana passava nessa região.

Além de o caminho ser bonito e bem sinalizado, o tempo também estava ótimo, com muito sol, mas não quente demais. Correu tudo tão bem que chegamos ao hotel bem cedo, por volta das 15 horas, e ainda deu tempo de conhecer o interessante centro histórico de Feltre.

Cartaz na recepção do hotel: dá para notar que o pessoal aqui "adora" o Berlusconi, né?!

O charmoso centro de Feltre.

Bicicletas aguardam seus donos placidamente.

Como era segunda, todos os restaurantes da cidade estavam fechados.
Para achar um aberto tivemos de caminhar quase uma hora, mas pelo menos aproveitamos bem o jantar...

Hospedagem em Feltre: Hotel Park Feltre (70 euros p/ o casal – com café da manhã) – prós: ótimo atendimento, feito por um casal jovem que arranha português; as bikes ficam na recepção; contras: café da manhã bem modesto; sinal de internet apenas razoável.